O
Pássaro de Fogo
O Pássaro de Fogo é uma das
figuras mais famosas do folclore cariaciquense, sua lenda lembra a origem de
Rudá, o Deus tupi do amor, que havia surgido para ser o mensageiro entre o sol
e lua, assim como despertar o amor no coração das mulheres.
Segundo a lenda, onde hoje
ficam as cidades de Cariacica e Serra, vivam duas tribos rivais. O chefe da
tribo que habitava Cariacica teve uma filha lindíssima, esta princesa veio a se
apaixonar por um valente guerreiro da tribo rival.
Dos céus, uma ave fantástica
via o sofrimento do casal e seu amor proibido, decido a ajudar, o enorme
pássaro levava princesa índia até o encontro de seu amado, mas mesmo com a
ajuda sobrenatural, os jovens foram descobertos. O chefe da tribo irado pediu a
um poderoso xamã que fizesse um feitiço para que os amantes jamais se
encontrassem de novo, o velho curandeiro implorou aos deuses tal provisão e os
deuses foram extremamente severos, eles prenderam os jovens amantes em prisões
de pedra, transformando a princesa no Monte Moxuara e o guerreiro no Monte
Mestre Álvaro, condenados a estar um de frente ao outro pela eternidade, mas
sem se tocarem ou se falarem. Talvez por arrependimento das tribos ou dos
deuses, os espíritos que habitam as florestas do Moxuara fizeram outro encanto.
Uma vez por ano os jovens amantes se libertariam de sua prisão de pedra e o
pássaro encantado lhes serviria por mensageiro, a ave fantástica se converteu
em fogo e no dia 24 de junho é possível ver o pássaro de fogo rasgar os céus
levando as eternas promessas de amor da princesa e do guerreiro.
Origem do nome Cariacica
O nome Cariacica vem do nome do rio Carijacica que desce próximo ao Moxuara. Segundo a lenda o nome surgiu de uma luta entre brancos e índios.
No tempo dos primeiros conquistadores os índios que haviam feito alianças com os colonizadores se tornaram seus adversários, logo viriam os jesuítas para convertê-los e trazer a paz aos selvagens.
Diz à lenda que entre um grupo de colonos havia uma bela moça, tão bela que chamou a atenção dos índios. Talvez por sua beleza ou por ter algum laço com alguém importante na época, um grupo de valentes guerreiros a sequestrou e levou-a para tribo, que ficava em um lugar secreto em Cariacica. Foi então que um grupo de valentes colonos decidiu resgatar a donzela seguindo de canoas o rumo que os índios tomaram, na tribo todos estavam tranquilos acreditando que os portugueses jamais os encontrariam tão longe, foi quando se ouviu um grito: _Cari-jaci-caá! Que significa “chegada do homem branco”, logo todos os índios gritavam “Carijacica”, anunciando que os colonos haviam encontrado o local da tribo. Sendo surpreendidos, os índios foram subjugados e a donzela resgatada, o rio por aonde vieram os colonos ficou conhecido como Carijacica, marcando o local aonde chegavam os brancos. Mais tarde, ali por perto seria erguida uma missão jesuíta que nomearia a região de Carijacica, que o correr dos anos cuidou de abreviar em Cariacica.
Mula Sem Cabeça da Estrada Velha
Anos atrás, uma das ruas principais
de Cariacica Sede era o caminho de uma criatura equina que cuspia fogo, os
moradores diziam ser uma mula sem cabeça, devido ela andar desembestada pela
estrada. Qualquer um que entrasse seu caminho seria pisoteado ou queimado.
Segundo a lenda a fera era uma mulher
amaldiçoada pela sua promiscuidade, condenada a se tornar nesta criatura equina
todas as sextas-feiras de lua cheia. O ataque da fera era terrível, pisoteando
tudo a sua frente, o único momento em que ela se acalmava era quando comia sua
fruta favorita, ela invadia quintais e plantações em busca de banana e em
quanto ela se embuchava de banana era possível avistá-la sem perigo.
A Pata
Diz à lenda que Cariacica Sede é
anualmente visitada por uma enorme ave semelhante a uma pata ou gansa, esta ave
na verdade é uma bela mulher que por ser a sétima filha mulher de sete
filhas mulheres consecutivas foi encantada e condenada a se tornar uma enorme
ave durante a noite, além de ter de se alimentar da carne dos mortos, a lenda
ainda diz que o sétimo filho homem de sete filhos virará um lobisomem.
Outros dizem que esta mulher na verdade é uma bruxa e se tornar em ave, além de
ter que violar túmulos, faz parte de um pacto.
Sua transformação ocorre na quaresma,
pois é quando a grande ave passa sobre a cidade em direção ao cemitério, por
vezes ela pousa sobre o telhado de uma casa e faz muito barulho, os moradores
não devem sair de dentro da casa, a visita desta entidade é um sinal de má
sorte.
João Bananeira
Por causa da distancia da região
rural de Cariacica até o Convento da Penha, os moradores da região passarão a
fazer uma festa para celebrar o dia da padroeira do estado. No tempo da
escravidão os negros não podiam participar das procissões dos brancos, assim
para não serem reconhecidos pelos seus senhores durante os festejos de Nossa
Senhora da Penha, eles se cobriam com palha de bananeira, tecidos e mascaras,
surgindo assim o João Bananeira, uma das figuras mais importantes do folclore
cariaciquense. Alguns dizem que mulheres se fantasiavam de João Bananeira para
participar da festa sem se preocupar com o protocolo.
A pedra do frade
Dizem que no tempo dos jesuítas, os
brancos e os índios viviam em guerra e cada um destes povos se dizia ser o mais
forte, certa vez entraram em um conflito para definir de uma vez por todas quem
era mais forte, o branco ou o índio.
Um frade jesuíta vendo a quantidade
de feridos e mortos no conflito, pediu a Deus que provasse a todos os povos que
o mais forte entre todos é Deus.
Dos céus Deus ouviu aração de tão
temente servo e o transformou em um gigante fortíssimo, mas tão forte que o
Frade conseguiu levantar o Monte Moxuara sobre a cabeça, mostrando aos brancos
e aos índios que sua força era minúscula comparada ao poder de Deus, após mover
a pedra o frade gigante se sentou sobre ela e lá seu corpo está petrificado até
hoje, formando um apêndice na montanha semelhante a um homem sentado ao lado do
Monte Moxuara.
Caboclinho D’Água
O Caboclinho D'Água do Moxuara é
a entidade protetora dos lagos e pântanos, raramente aparecendo nos rios. Ele
se parece com os humanos, porém é mais baixo, sua pele é escura acinzentada,
por vezes quase negra e coberta de lama e plantas aquáticas, o que impede de
ser visto com facilidade dentro da água, lugar onde passa maior parte do tempo.
Ele ataca animais, principalmente
patos e marrecos, assim como ataca pessoas, em especial crianças, que andam
próximo ao lago onde mora, seu ataque e rápido e certeiro, o Caboclinho D'Água agarra a
vítima e a arrasta para o fundo, prendendo-a nas plantas aquáticas ou
atolando-a na lama argilosa para que a vítima morra afogada, desta forma, no
Moxuara é comum encontrar animais afogados dentro das pequenas lagoas formadas
pela extração de argila ou em várzeas.
A única forma de se precaver contra o
Caboclinho D'Água é evitar pescar ou andar sozinho próximo aos lagos, já que ele só
ataca pessoas desacompanhadas.
Capitão do Mato
Capitão do Mato ou Caboclinho da Mata
são nomes dados aos Caiporas das matas do Moxuara e redondezas, porém estas
entidades estão mais associadas à proteção da flora do que a proteção da fauna,
ou seja, enquanto o Caipora protege a vida animal da floresta o Capitão do Mato
protege as árvores.
O Capitão do Mato tem uma relação tão
íntima com as árvores que podem até conversar com elas, tendo um enorme ciúme
delas e de seu território. Segundo a lenda os capitães do mato ganharam este
nome dos escravos fugidos que entravam no território destas entidades, que
iradas faziam os escravos se perderem e cair nas mãos dos capitães do mato que
os caçavam.
Os capitães do mato aparecem na forma
de um menino ou como um velho com a altura de uma criança, quando o Capitão do
Mato descobre que há alguém andando pela sua mata, ele sai desembestado fazendo
ruídos para assustar os invasores, uns dizem que ele até consegue mover as
árvores para fazer os invasores se perderem, alguns os citam como homens
sem cabeça, tamanha a ira destas criaturas, principalmente contra caçadores
e lenhadores, dizem que eles chegam a babar de ódio, seu truque mais terrível é
prender o invasor entre os maricás.
Assim como o Caipora, o Capitão do
Mato tem fraqueza por cachaça e fumo e dar-lhe tais prendas é a forma de se
livrar destas entidades, para isso o invasor deve deixar a oferenda em uma
árvore e por vezes o próprio Capitão do Mato vem pedir fumo.
Nem sempre tal entidade é apresentada
como má. Pela intimidade que Capitão do Mato tem com as árvores apenas eles
sabem todos os segredos do poder medicinal das plantas e raramente os revela aos
humanos. Os viajantes e comerciantes ofereciam fumo ao Capitão do Mato em troca
de sua proteção durante a viagem, a entidade os seguia espantando os animais
selvagens e malfeitores.
Boi Bubu
Muitos dizem que o nome do
bairro Bubu surgiu na referência ao som da Maria Fumaça que passava pela
região, seguindo pela estrada de ferro Vitória a Minas. Em outra versão o nome
do bairro e do rio Bubu surgiu em referência ao Boi Bubu, que pertencia a uma
das famílias mais antigas da região, este animal tinha beleza e porte incomparáveis,
diziam ser lindo que os mercadores que vinham até o Porto de Cariacica seguiam
o rio para vê-lo. O nome Bubu veio do mugido do boi “bu... bu...” que ecoava
entre o vale e os morros que compõe o atual bairro, que na época era seu pasto.
Logo todos diziam: _eu vou até o Bubu. Dizendo ir até onde ficava o boi, com o
tempo o local ganhou o nome Bubu, assim como o rio que corta a região.
Cobra
do Fogo
As Cobras do Fogo são
entidades protetoras da floresta e responsáveis por apagar os incêndios na
mata, elas eram as inimigas dos lenhadores e oleiros do Moxuara, apareciam na
forma de grandes serpentes, uns dizem que eram semelhantes as surucucus.
As Cobras do Fogo apareciam
para afugentar aqueles que queriam fazer mal a floresta, por vezes elas saiam
das matas indo até os fornos das olarias, onde aterrorizavam os oleiros e
enfrentavam o fogo, muitos diziam vê-las lutando contra as chamas, dando uma
série de botes contra o fogo até apaga-lo, daí seu nome Cobra do Fogo. Após o
fim das olarias no Moxuara, não se ouviu mais sobre as Cobras do Fogo.
Eis um pouco do vasto folclore da minha amada terra natal. Longe de temer as antigas histórias do nosso povo, devemos tratá-las como valiosos ensinamentos. Respeitar o passado nos remete a um futuro de esperança. Portanto, que as lendas de Cariacica sejam transformadas magicamente em poesia e que os alunos possam ler e escrever!